Não é de hoje que vegetarianos radicais apregoam a eliminação de carne da dieta das pessoas. Mas se antes a gritaria era na defesa dos direitos dos animais, vítimas dos carnívoros, agora a bandeira é salvar a raça humana do aquecimento global. Para a alegria dos engajados, um estudo divulgado na semana passada pela Agência de Impacto Ambiental da Holanda constatou, entre outras coisas, o seguinte: a carne vermelha tem vilania e muito mais culpa nas emissões de CO2 e de metano na atmosfera terrestre do que a maioria de nós imaginava.
Como isso é possível? Criar gado saudável exige pastagem que causa destruição de florestas ou qualquer tipo de vegetação responsável pela absorção de carbono. Sim. Disso já se sabia. Tampouco não se ignorava que o Brasil é o segundo maior produtor, maior exportador e quarto maior consumidor de carne bovina do mundo. Teria então surgido algo diferente? Não. Apenas caiu a ficha. Pimba. Tomada de consciência de que a flatulência de milhões de bois está no ar.
Isso mesmo: pum! Arroto também. Quer dizer, é gás metano... Sabem o que isso significa? Os puns e os arrotos expelidos pelos extensos rebanhos provocam efeito estufa; são piores do que o dióxido de carbono (CO2) das queimadas. E, evidentemente, não são novidade.
Pesquisadores estimam que 6% de todo o alimento consumido pelo gado ruminante, no mundo inteiro, seja convertido em gás metano. O qual é 24 vezes mais potente do que o dióxido de carbono para causar aquecimentos atmosféricos, contribuindo com 15% do total do aquecimento global. E não é para menos, em média, um bovino emite 57,5 quilos desse gás por ano. Ufa. Por isso a Embrapa vem pesquisando a formulação de alimentos e rações especiais, que permitam maior retenção do metano no organismo do animal.
Na verdade, o assunto é uma grande preocupação internacional. Em 2003, por exemplo, o governo da Nova Zelândia tentou cobrar de seus fazendeiros um imposto para cumprir as metas assumidas no Protocolo de Kyoto. Afinal, seus cientistas haviam estimado que a flatulência de veados, ovelhas, bois e cabras respondiam por 90% das emissões de metano; as quais tinham passado a constar entre as principais causas das mudanças climáticas.
Uma outra revelação interessante na semana passada aconteceu durante um simpósio sobre a evolução da dieta humana. Nada a ver com flatulência. O evento foi na Associação Americana para o Progresso da Ciência, nos Estados Unidos. Lá, falou-se dos chimpanzés que continuam podendo se alimentar apenas de frutas e sementes como há milhões de anos. Ao contrário dos seres humanos que, segundo o antropólogo William Leonard, precisaram adotar uma alimentação mais calórica porque seus cérebros maiores exigiam mais energia. Pois bem, por essa causa passaram a percorrer maiores distâncias na coleta e na caça desse tipo de comida; o que nos levou à nossa expansão pelo planeta. E aí nos assentamos, ficamos sedentários e começamos a enfrentar o desequilíbrio energético em nosso corpo: colesterol, obesidade, diabetes, etc.
Um desequilíbrio que tem virado tema de debates sobre saúde pública, estética e estratégias políticas. Regimes de emagrecimento e malhação de gente importante na atmosfera de governos... Dizem que rende voto.
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